Conceito criado por CEO da Ideo propõe caminhos para pensar o produto
fora dos modelos tradicionais
Muitos de nós somos cobrados no trabalho por
desempenhos cada vez mais eficazes e resultados cada vez maiores. A busca por
desempenho está aniquilando nossa capacidade de experimentar caminhos
diferentes. O medo de não cumprir as metas e não atingir os objetivos nos leva,
inexoravelmente, ao caminho mais seguro e confiável dentre os conhecidos e já
testados. Tim Brown, CEO da Ideo, ficou famoso em 2009 por compartilhar com o
mundo um caminho diferente que tornou a Ideo uma das dez empresas mais
inovadoras do mundo. Esse caminho é conhecido como “design thinking”, título do
seu livro que vendeu milhares de exemplares em todo o mundo e foi lançado no
Brasil pela editora Campus em 2010.
Como designer, Brown descobriu que um bom desenho
nem sempre é suficiente para resolver problemas do produto e que muitas vezes
nem o próprio produto resolve o problema do cliente. Estudando melhor os
produtos que desenhava a pedido de seus clientes, ele percebeu que sua
capacidade criativa poderia ir além do desenho e ajudar a repensar o negócio
sob a perspectiva do consumidor final. A essência do conceito de design
thinking como uma evolução do tradicional processo de design é colocada
nos seguintes tópicos:
● Insight: Aprender
com a vida alheia. Quando nos deparamos com um problema, devemos nos livrar das
amarras impostas pelas soluções baseadas na forma tradicional de pensar. Os
insights são descobertas que surgem repentinamente depois de um momento de
reflexão e contemplação sobre a situação que queremos resolver. O insight é
decorrente de muita observação do comportamento das pessoas e da forma como
elas lidam com a situação problema, como improvisam, como reduzem o impacto,
como contornam de diversas formas as limitações impostas. Para transformar
essas observações em insights, é preciso também se colocar na pele do outro e
tentar “viver” o mesmo problema. Essa empatia ajuda o design thinker a explorar
as perspectivas de quem está “dentro” do problema, suas interações com o
ambiente e suas limitações na visualização de caminhos inovadores.
● Mapa mental: O paradoxo entre o pensamento
convergente e divergente. O design thinking é uma jornada por diferentes
estados mentais. Nela, é preciso desenvolver o pensamento divergente, um modelo
mental de busca de alternativas, caminhos, soluções, respostas, possibilidades
que sejam, sempre que possível, criativas, lógicas, estruturadas, estranhas,
factíveis, duvidosas, de todo tipo, para então explorar o pensamento convergente,
no qual se usam critérios práticos para decidir entre as alternativas,
comparando-as umas com as outras e testando algumas delas. Os modelos mentais
são muito diferentes, e o maior desafio é considerar os dois lados do cérebro
para pensar, ora de forma analítica, ora de forma sintética.
● Prototipagem: Construindo
para pensar. Um protótipo é uma versão física de um produto antes de ser
fabricado. Ao fazer um protótipo, estamos pensando com as mãos, explorando
fisicamente o abstrato, abrindo a mente para novas possibilidades e comparando
pontos de vistas diferentes. Muitas coisas surgem a partir de um protótipo, mas
não apareceriam numa versão em duas dimensões, no papel. O protótipo pode ser
algo malfeito, barato, terminado rapidamente e até improvisado – o que importa
é a sua capacidade de aprimorar uma ideia. Coisas intangíveis podem ser
prototipadas também. O storytelling da indústria cinematográfica, as
experiências simuladas nos ramos de serviços ou as maquetes de projeções do
futuro para o desenvolvimento de estratégias organizacionais são bons
exemplos.
● Pensamento integrativo: Tirando a ordem do
meio do caos. É uma habilidade típica de pessoas que exploram ideias opostas
para construir uma nova solução, ao contrário da maioria, que só leva em consideração
um modelo por vez. Os pensadores integradores sabem como ampliar o escopo das
questões relevantes ao problema e resistem à lógica do “isso ou aquilo” para
favorecer a lógica do “isso E aquilo” e veem relações não lineares e
multidirecionais como uma fonte de inspiração, não de contradição. Quem se
destaca como “pensador integrativo” recebe a desordem de braços abertos, admite
bem a existência da complexidade, pois consegue identificar padrões no meio da
complexidade e sintetiza novas ideias a partir de fragmentos. Para isso, ele às
vezes dá alguns passos atrás para conseguir ver o todo de forma contemplativa,
na esperança de que seu cérebro identifique algo que se sobressaia diante da
complexidade e do excesso de variáveis que compõe esse todo.
● Pensamento visual: A ciência do
guardanapo. Algumas pessoas só conseguem se expressar ou entender a partir de
desenhos, gráficos, imagens ou qualquer representação visual que vá além de
palavras e números. Muitas grandes ideias de hoje começaram com um esboço de um
modelo em um guardanapo de papel numa conversa entre duas pessoas, regada a
cerveja ou vinho. Nem é preciso saber desenhar, o importante é conceber uma
imagem mental da ideia. É como se fosse uma etapa anterior à do protótipo, só
que em duas dimensões apenas.
Através desse conceito e das ferramentas associadas
a ele, a Ideo vem ajudando empresas a encontrar soluções para negócios, como
formas de aumentar a retenção de clientes, proporcionar experiências
inesquecíveis ao saborear um prato ou minimizar o risco de uma excessiva
exposição de imagem corporativa. Sempre são situações e desafios que exigem que
a solução vá além do óbvio e, de certa forma, surpreenda a ponto de transformar
algo extremamente negativo em algo extremamente positivo. Para isso, a Ideo
reúne toda a sua capacidade criativa, antes usada para desenhar novos produtos,
para agora desenhar novas soluções de negócios, entre elas a forma como esses
produtos são usados ou que valor representam.
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